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domingo, 8 de maio de 2011

Entenda como a cana-de-açúcar pode resfriar o cerrado brasileiro

Estudo divulgado pela revista 'Nature Climate Change' aponta que o cultivo da cana-de-açúcar ajuda a resfriar o clima. Foto: AFP Estudo divulgado pela revista 'Nature Climate Change' aponta que o cultivo da cana-de-açúcar ajuda a resfriar o clima
Foto: AFP
Angela Joenck Pinto
A cana-de-açúcar produzida no Brasil não serve apenas para produzir cachaça e biocombustíveis. Um estudo conduzido pela Universidade de Stanford, na Califórnia (EUA), e divulgado recentemente pela revista Nature Climate Change aponta que o cultivo também ajuda a resfriar o clima da região do Cerrado.
A cana-de-açucar é a planta mais eficiente na conversão da energia luminosa (radiação solar) em energia química (açúcares), por meio da fotossíntese. Assim como o milho e o arroz, seu metabolismo é chamado de C4. "Mas é a mais eficiente de todas", diz o engenheiro agrônomo e professor da Universidade de São Paulo (USP), Edgar Gomes Ferreira de Beauclair.
Para capturar o gás carbônico durante o processo, ela precisa abrir os estômatos - pequenos poros na folha - para as trocas gasosas e para a água percorrer a planta, saindo da raiz até as folhas e indo para a atmosfera. Nesse processo, ocorre a absorção de CO2 e H2O para formação de açúcares e carboidratos ao longo do seu metabolismo.
Esse processo ocorre com todas as plantas, mas como a cana é a mais "eficiente", isso se reflete também na quantidade da água evaporada/transpirada. "A água é um dos fatores de resfriamento devido ao seu poder calórico e a cana resfria mais que outras culturas", afirma Beauclair.
Segundo ele, toda cobertura vegetal melhora o clima, mas outra razão do resfriamento com a cana ser mais acentuado é sua alta reflectância da luz.
"Um fator importante a ser discutido é que a transpiração só vai ocorrer em todo seu potencial se houver disponibilidade de água. Na seca, provavelmente as diferenças tendem a se reduzir ou mesmo desaparecer", alerta o professor.
A descoberta do estudo não significa, porém, que a substituição da vegetação original pela cana-de-açúcar seja algo positivo. A pesquisa mostra a superioridade da cana apenas frente à pecuária e a outros tipos de cultura. "Em se tratando de clima, os resultados do plantio da cana é que teremos temperaturas menores quando comparadas aos pastos extensivos e ineficientes presentes na maior parte do cerrado já desmatado.
Entre as culturas, a cana-de-açúcar é sem dúvida alguma a menos danosa ao meio ambiente. Segundo o professor, é a que menos aplica defensivos, adubos e com maior controle da erosão. Mas como qualquer atividade humana, se for mal conduzida, pode trazer danos, alerta.
Ele ainda aponta a vantagem da cana ter disponível uma tecnologia de produção sustentável disponível ao produtor. "Mas sempre serão necessários investimentos para um manejo correto", pondera.
Biocombustíveis
O professor afirma ainda que, "sem dúvida alguma" é possível fazer o cultivo de cana para uso em biocombustíves de maneira sustentável. Segundo ele, a tecnologia disponível hoje preserva o ambiente, é rentável e socialmente responsável. Oferece melhores empregos, ainda que com menos vagas, com a mecanização completa da cultura.
"Ainda existem muitos gargalos da produção, mas comparado às demais culturas, a cana pode ser produzida de forma muito mais sustentável que as que são cultivadas hoje no cerrado. Há uso de resíduos com a maior reciclagem de nutrientes do planeta, menor uso de defensivos, todas as doenças são controladas pelo manejo de variedades, as principais pragas com controle biológico, apresenta maior adubação orgânica. Tudo isso sem falar do sequestro efetivo de carbono que ocorre na renovação do sistema radicular após cada corte - 3 a 5 t de carbono por hectare ao ano - e da adição de cerca de 20 t por hectare de biomassa ao ano na cana colhida sem queima".
Eficiência
Conforme Beauclair, é preciso focar o trabalho no uso da terra, tendo a eficiência como um objetivo global. "A substituição da pecuária extensiva e de baixa eficiência é um objetivo que todos os que querem o bem do planeta deveriam desejar. A preservação da vegetação natural pode ser alcançada se o aumento da produção de alimentos, fibra e energia forem baseados no aumento da produtividade, da eficiência do uso da terra. Onde ainda existe vegetação natural, ela deve ser preferencialmente preservada, mas sabendo que existem mais de 100 milhões de ha de pastagens no cerrado com produtividade abaixo de uma cabeça por hectare, não é hora dessa área receber um cuidado maior?", questiona.
O professor da USP diz ainda que, se analisados os números, a preocupação com a preservação deveria ser nas pastagens extensivas e degradadas. "A área de cana-de-açúcar no Brasil (pouco menos de 9 milhões de ha) não atinge dois terços da área de soja (15 milhões) e nem 10% da área de pasto no cerrado. Pode-se, com relativa facilidade, dobrar a produção de carne em metade da área atualmente em uso como pasto no cerrado e nessa área pode-se aumentar o plantio de grãos e de biomassa de forma geral. Impactos sociais positivos são esperados com o aumento da atividade de geração de biomassa com forte inclusão social", aponta o engenheiro agrônomo.
Dentro das tecnologias sustentáveis estão a produção integrada de cana-de-açúcar, soja e pecuária. "Elas não são necessariamente excludentes, mas é preciso aumentar a eficiência do uso da terra com tecnologia e profissionalização sustentável da atividade rural. Sustentabilidade deve ser entendida como exploração com viabilidade técnica e econômica, com respeito ao ambiente e com responsabilidade social", afirma.
FONTE : http://noticias.terra.com.br/ciencia
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